Blog Ergo Sum II

Renasço como Fênix! Isso no meu ombro é cinza, e não caspa!!!

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domingo, junho 06, 2004
 
Peguei uma camisa no armário. Não consegui vesti-la: as antitraças - completamente inimaginativas - traçaram linhas inexatas fechando as passagens para os braços - Sempre imaginei os braços como metrôs que circulavam pelas mangas das camisas: Dindom, próxima parada, punho. As bichinhas fizeram o mesmo com calças e cuecas.
Também os ícaros, esse pequenos homens alados que se queimam ao tocar as lâmpadas - como já preconizavam Adoniram Barbosa e Biafra - encheram de penas e cera meus tênis velhos, de modo que saí para a rua nu, vestindo apenas um cálice de rum, por causa do frio do amanhecer de maio.
Nunca havia usado uma roupa tão velha ou gasta quanto minha própria pele. Um guarda me parou na primeira esquina: o sinal está fechado pra pedestres, afirmou, com a voz imponente. Mas percebi que ele olhava meu pênis, ereto.
- Tá apontando pra onde? - perguntou.
- É como uma bússola de pomba: aponta sempre o caminho de casa.
- Podia ser pior - disse o guarda - podia apontar sempre o inferno.
- Acho que não - respondi, orgulhoso - sou casado.
O sol raiou forte a partir daí, esquentando meu espírito. Mas não pude entrar no trabalho: esqueci o crachá em casa.